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7 de mai. de 2011

Sobre alvoradas e Icebergs


Recentemente, foi publicado no Idança um texto sobre o Mês da Dança em Salvador, intitulado "Chamado ao Alvorecer do Mês da Dança", de autoria de Eduardo Augusto Rosa Santana (o Duto, que conhecemos). No texto, Duto fala sobre o processo de construção das políticas públicas para dança em Salvador nos últimos cinco anos. Porém, achei que o texto esquecia de comentar também sobre o atual momento que chamei de pontas de icebergs que desmoronam em nossas cabeças, que é a questão-problema da política de editais do Estado da Bahia. Essas pontas de icebergs também se refere as ações de grupos e artistas, que no mês da Dança multiplicaram uma série de imagens e provocações sobre essa mesma questão ético-política suplementada em atraso de repasses de verba, não assinatura de TACs, extensas burocracias, etc.

Entrei, então, em contato com Duto pelo Gtalk e conversamos um pouco (ou bastante) sobre... disse a ele que a princípio não gostaria de fazer um comentário no Idança, para que não soasse uma discussão esvaziada ou mera reação sensacionalista. O papo foi interessante e achamos por bem que eu deveria postar um comentário no Idança, que abaixo transcrevo:

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Duto,

vejo no seu texto um panorama muito coerente da atual situação do cenário soteropolitano da dança, sobretudo quanto à participação da sociedade civil na construção das políticas públicas do estado. Porém, como todo texto, há sempre algo que perde.

Acho que o texto faz uma "vista grossa" para uma, também, atual situação de grupos e artistas independentes do estado que estão atolados de dívidas e projetos empacados, desiludidos, parados (...), devido ao atraso de assinaturas de TAC, repasse de verbas e tantos outros problemas da política de editais do Estado da Bahia. Aliás, acredito que não seja um problema somente local, mas rastro de um contexto maior.

Baseado nisso, alguns desses mesmos artistas iniciaram na internet um movimento disseminado, com certo humor, que auto-intitulava e indagava "FUNCEB, cadê meu dinheiro?".

O CoMteMpu's, grupo o qual sou um dos co-criadores, inclusive, já se organizava para realização da campanha viral "Star Uó" que se desdobrou em uma série de micro-ações.

Star Uó não é um movimento somente em reação à questão dos editais. Star Uó (de "o ó do borogodó", mas que tbm faz alusão a tantas outras interpretações como STAR WARS)é uma reivindicação/ação que nós Zezas usamos para outras tantas instâncias de indignação ou simples zombaria sobre nossa condição - sempre momentânea. Star Uó, já existia desde ano passado, mas nunca havíamos canalizado para uma questão específica; o fizemos agora no mês da dança foi canalizar essa ação para refletirmos sobre uma questão ético-política dos editais do Estado. Fizemos isso produzindo uma ação que usou da nossa "fome" como leitmotiv estético, gerando diálogos entre artistas na internet e fora dela. Chegamos inclusive a fazer uma ação no Dia D, na reitoria da UFBA, dando continuidade ao movimento que fazíamos no face, no blog e twitter, sempre que possível, com a presença de nosso amigo Darth Vader.

Essas ações se cruzaram com ações de outros grupos, coletivos e artistas, como Grupo Quintanda, Vagapara, Grupo His, entre tantos outros anônimos que veicularam nos seus perfis em redes sociais e blogs uma série de imagens e textos sob o título "FUNCEB, cadê meu dinheiro". Como disse, esses “tantos” fizeram de sua indignação leitmotiv estético que denunciam uma questão ético-política que vivemos. A forma de se relacionar/enunciar, como vírus de internet, também é parte dessa ação/ética/política. A fome faz “um prato cheio de farofa com um pedaço de carne” virar banquete. Fazer vírus na internet é tão farofa, quanto a os editais é diminuto-pedaço de carne na nossa política cultural.

Queria usar, ainda, uma imagem-metáfora da qual falávamos no Gtalk: iceberg. Vejo as atuais ações de artistas na internet como uma ponta de um iceberg que está se desmoronando. Ele (o iceberg-problema) não vai explodir... a queda de pontas é comum em todo iceberg, como sabemos. Toda história se faz assim também, de pequenas destruições. Porém,como diz um dos filósofos que tenho alguma intimidade , Jacques Derrida, lembremos também que em toda história, toda linguagem, todo discurso, toda narrativa são atos de violência. Ao se enunciar algo, aquilo que permanece calado, o não-dito, assola. Por isso digo que esses movimentos que se enunciaram/disseminaram na internet são uma tentativa para que se registre também nesse percurso histórico violento aquilo que vai se desmoronando no instante, também momentâneo, de "alvorada".

Diria mais (aqui vou falar das experiências mais próximas): no caso do CoMteMpu's, o iceberg-problema é profundo; beeem profundo. Para que se chegasse a Star Uó (a ponta do iceberg), foram uma série de outras micro-ações em quase 6 anos de trabalho em grupo. Desde nossa fundação, estivemos em constante diálogo com o governo (inclusive a antiga gestão), com a classe e interessados em geral: cartas, participação de mesas, debates, intervenções, além de conversas informais, Forum de Dança da Bahia, etc. Registro também que também fomos contemplados em editais de montagem, circulação, residência artística no exterior, etc. Parte de nossos enunciados e participações estão documentados no zezolandia.blogspot.com, outros se dissolveram no tempo.

Ou seja, para esclarecer, tanto "Star Uó" quanto "FUNCEB, cadê meu dinheiro" não são movimentos esvaziados. São sim pontas de um ice* (sem gelo) que desce queimando, talvez.

Falar de qualquer retrospecto histórico parte sempre de um "hoje", que tbm é momentâneo. Artistas que reclamam hoje denunciam um acúmulo de muito tempo de atrasos de pagamentos, dividas, problemas de comunicação, desilusões, burocracias sem fim, e tanto outros problemas que a política pública cultural da Bahia também provoca/ou. Essas ditas ações “sorrasteiras ou subversivas” que se fizeram nesse mês da dança são também suplemento de nossa política pública.

Só pra registrar alguns desmoronamentos: existem grupos que até hoje não receberam parcelas de projetos realizados há mais de um ano; nós fomos contemplados por um projeto de manutenção de grupos há mais de 6 meses que até hoje sequer assinou o Termo de Acordo (TAC - uma espécie de contrato entre o artista e o governo); outros já com os TACs assinados esperam há meses (ouvi dizer que alguns esperam "há anos") para recebimento de parcelas; etc. Nesse processo, grupos interromperam suas atividades, acordos com outros parceiros foram desfeitos e tantos outros problemas, que não conseguiria resumir aqui, se desencadearam.

Daí, esse comentário que faço, dando continuidade ao seu texto, não reivindica a inclusão de mais nomes na sua lista. De forma alguma. Estou apenas registrando que nesse atual alvorecer da Dança na Bahia, também, icebergs despencam sua pontas.

O olhar sobre cinco anos é regressivo, sempre! Parte de um hoje... venho aqui dizer que nesses cinco anos, o atual e profundo problema da política de editais me parece falar um pouco mais alto. Para que não estejamos sempre calados, contribuo com esse relato.
Sigamos...

Saudações. Sérgio Andrade

ps.: no http://zezolandia.blogspot.com tem alguns posts publicados sobre os movimentos virais que me referi, além de ter links para perfis de alguns outros grupos e coletivos que também organizaram suas ações pela internet.

Alguns links diretos:
http://zezolandia.blogspot.com/2011/04/iai-funceb.html
http://zezolandia.blogspot.com/2011/04/impressoes-de-viral-star-uo-e-funceb-da.html

5 comentários:

sRG disse...

tentei postar o comentário lá no Idança umas 15 vezes... acho q o site ta com problema. Bom, chamo para o diálogo aqui então. Mandei o Link para o Duto... enfim. Aquela coisa, né?

Eros Ferreira disse...

Dizem os bons ventos que toda essa movimentação atual na internet (#viral+star uó+F.C.M.$) resultou em algumas "regulagens" internas dentro das instituições (FUNCEB, SeCult). o que só comprova a legitimidade deste mesmo espaço alimentado por alguns artistas da cidade que não estavam mesmo satisfeitos de como vinham sendo procedidos os editais de cultura do estado...

"E se isso é não entender de nada...PORRÃÃÃHNN... o que é estar beeemm néahnn..." (citação infame)

A questão é que já vemos, mesmo, as coisas na tentativa de se desatar com o pagamento das parcelas finais de alguns projetos que estavam atrasados, e espero eu, que continuemos nessa CRESCENTE e que consigamos atualizar nosso calendário de editais para o ano de "2010" (olha só...).

Para além das questões dos editais, fico cada vez mais intrigado com este espaço (internet) e a dimensão que a arte pode ganhar com isso.

(sensação de alguma coisa "no ar"...)

sRG disse...

is love in the air?

Eros Ferreira disse...

no! não desta vez... ;)

sRG disse...

aaaah
to fazendo citação pura... rs
zero tentativa de ambiguidade ;)